Carreira e novo perfil do Contador, requerem mindset digital

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Carreira e novo perfil do Contador, requerem mindset digital

Valendo-me da matéria no Estadão de 02/04/2023; da entrevista de Lorena Molter pelo CFC em 27/10/2022 com o Prof. Dr. Eliseu Martins; e do Podcast de 06/08/2021 com o Prof. Dr. José Carlos de Souza Jr., reitor do Instituto Mauá de Tecnologia - IMT, defini o título acima do artigo que segue.

CARREIRAS EM Y E W

Provocado pelo post de Fernando Rohsig que trouxe a oportuna matéria produzida pelo referido jornal, com o título: Carreiras em Y e W beneficiam pessoas que não querem ser líderes, me questionei o quanto isso impacta e como se aplica às diferentes formações/profissões, e entre todas elas a minha em especial, como profissional de contabilidade.

É instigante o tema, dá até para segregar por exemplo, considerando se o profissional contador é especializado em contabilidade financeira, gerencial ou auditor; pra ficar só nessas três, pois são dezenas de especializações possíveis.

Sabendo que a ciência contábil é essencialmente uma linguagem de comunicação dos negócios/patrimônio, como trabalhar/adequar a carreira do profissional contábil, priorizando apenas ou mais o conhecimento técnico, abrindo mão de outras formações e habilidades/soft skills, que dão as bases:

Para exercer o trabalho em time, aplicando ou não a metodologia ágil;

Para exercer uma boa comunicação interna e a externa com os stakeholders;

Para exercer a liderança técnica (indispensável), para atender por exemplo a CE - Customer Experience?

É um desafio e tanto e uma grande oportunidade, pra lá de prazerosos de trilhar, mas não devendo ser somente pela área de Gestão de Pessoas, ou seja, pelos Profissionais de RH.

ENTREVISTA COM O PROF. ELISEU MARTINS

CFC Entrevista Eliseu Martins: Qual perfil o mercado espera dos profissionais de contabilidade?

Reproduzimos abaixo na íntegra, a rica, oportuna e útil entrevista, tanto para as organizações contratantes das quatro hélices (academia, empresa, governo e entidades em geral), quanto para os profissionais de contabilidade, sejam: CLT, públicos ou de Organizações Contábeis, para que com ela (entrevista) possam se entenderem e se atenderem melhor, quanto as expectativas de realizações e resultados de parte a parte. A meu ver, boa parte da resposta para isso está em definir se a pessoa vai de Carreira Y ou W, ou ainda uma outra.  

ÍNTEGRA DA ENTREVISTA COM O PROF. ELISEU MARTINS

“Profissionais com conhecimentos que vão além da formação técnica estão sendo valorizados no mercado de trabalho. É necessário o domínio de assuntos que envolvem outras áreas e ainda a incorporação e a aplicação de temas relevantes no nível global, como os valores ambientais, sociais e de governança (ASG) nas estratégias e no dia a dia de trabalho. Somado a isso, fatores psicológicos comportamentais são avaliados nas empresas pelas áreas de recursos humanos e pelas lideranças.

O mercado de trabalho pede profissionais com novas competências e habilidades. O conhecimento estritamente técnico e especializado tão valorizado em décadas anteriores já não é o suficiente nos dias de hoje. Nesse novo cenário, ir além das atividades previstas e da sua mesa de trabalho e dominar assuntos referentes a outras áreas são atitudes essenciais para aqueles que pretendem destacar-se, na realidade, em qualquer profissão.

Aliado a esses fatores, a absorção e a implementação de temáticas, como os valores ambientes, sociais e de governança (ASG), as transformações digitais e tantos outros temas de nossa atualidade, que vão além do meramente técnico, precisam ser inseridos em estratégias e no dia a dia de trabalho.

Nesse século, as preocupações com o bem-estar social, com a sustentabilidade e com a integridade ganharam protagonismo por todo o planeta. Em função disso, também se ampliou a demanda – e por que não dizer a exigência? – por profissionais que tivessem essas pautas incorporadas em seus trabalhos e posturas. Somado a esses fatores, os aspectos psicológicos comportamentais ganharam um peso maior nas análises realizadas pelos setores de recursos humanos e pelas lideranças.

Contudo, em uma reflexão mais profunda, é possível concluir que a sociedade, de uma forma geral, tem cobrado novas posturas de governos e de empresas.

Com a Contabilidade não é diferente. Os profissionais dessa área precisam entender, adequar-se e colocar em prática essas posturas e saberes. Considerando-se a relevância da profissão para a abertura, desenvolvimento e crescimento das empresas e para o desenvolvimento sustentável dos países, fica ainda mais evidente o impacto positivo que pode ser gerado a partir dessas mudanças comportamentais e culturais. Ao mesmo tempo, é evidente que aqueles que não buscarem a transformação estarão sujeitos a perder competitividade e, em consequência, ficarem fora do mercado de trabalho.

O professor doutor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP) – campi São Paulo (SP) e Ribeirão Preto (SP), Eliseu Martins, explica quais foram as principais mudanças na Contabilidade nas últimas décadas e esclarece quais são as características importantes para os profissionais da contabilidade manterem-se competitivos no mercado atualmente. Acompanhe a entrevista a seguir.

RBC – Quais são as mudanças mais profundas que ocorreram na Contabilidade na última década?

Eliseu Martins – A última década da Contabilidade brasileira apresentou a maior revolução histórica da nossa área (a primeira foi a Lei nº 6404/1976, na implantação da Lei das SAs.). Com isso, principalmente, para as médias e grandes empresas, e principalmente para as abertas, uma Contabilidade, nesta última década, bem mais evoluída, rica, exigente e com maior capacidade informativa obrigou à formatação de profissionais com perfil bem diferente do que era exigido até então.

RBC – Que tipo de profissional da área contábil o mercado tem buscado?

Eliseu Martins – Precisamos hoje de um profissional da contabilidade que não mais fique sentado e isolado em sua cadeira; há que se procurarem informações no departamento financeiro para entender melhor os tipos de instrumentos financeiros que a empresa possui, qual a intenção de utilização das carteiras de clientes, quais os riscos e contingências, qual a vida útil de equipamentos de todas as naturezas, de edificações, de patentes e de todos os demais tipos de imobilizados e intangíveis. Há que se conhecer o mercado financeiro para ajudar a definir taxas de desconto aplicáveis à sua entidade; dialogar com o jurídico para melhor entender os contratos de todas as naturezas que a empresa possui, principalmente os que envolvem direitos societário e tributário; conhecer a terminologia da tecnologia da informação e os potenciais benefícios da utilização de todos os recursos dessa área, desde os tradicionais até os instrumentos que usam inteligência artificial e outros; e é necessário dominar todos os conceitos básicos da micro e da macroeconomia. Voltando à sua cadeira: nela, precisa aprender a atender a todos da entidade que cada vez mais vêm a ele. Na verdade, esses são os pontos principais, mas, não, os únicos, ou seja, um profissional que domine a Contabilidade, mas que tenha razoável domínio de Direito, de Economia, de Finanças, de Gestão, de Tecnologia da Informação, no mínimo.

RBC – Para o senhor, além dessas características essenciais para os contadores, qual pode ser um diferencial competitivo para o profissional da contabilidade hoje?

Eliseu Martins – Cada vez mais, o grande fator diferencial competitivo está no uso da inteligência emocional. Todo o conhecimento técnico e todas as características atrás definidas são absolutamente necessárias, mas não são suficientes. Hoje, a grande diferença para a ascensão e manutenção de posto na hierarquia (da empresa, da família, da igreja, do clube, do partido, etc.) está na capacidade de autocontrole emocional, na capacidade de entender o comportamento de seus pares, superiores e subordinados e na capacidade de gerir pessoas que têm diferentes perfis psicológicos comportamentais – não que isso seja uma novidade, mas, cada vez mais, as entidades vão tomando consciência de que não adianta ter o profissional mais tecnicamente preparado do mercado, se ele não consegue dialogar com facilidade e transparência, não sabe conviver com pessoas individualmente e em grupo, não consegue ter capacidade de reduzir conflitos e aí por diante. O lado comportamental humano é hoje o diferencial mais forte em qualquer profissão.

RBC – O que deve ser deixado para trás no perfil dos contadores das décadas passadas?

Eliseu Martins – Aquela história de que eu sei o que precisa ser feito e não preciso conversar com ninguém; os não contadores não são capazes de entender o que faço, logo, não adianta perder tempo com eles; se não entendem as demonstrações contábeis que lhes mando, o problema é deles; chiiii… a situação vai mal, mas não vou ser eu quem vai alertar a empresa ou o cliente disso... Todas essas atitudes precisam ser simplesmente enterradas e sem velório, inclusive.

RBC – Como o domínio de pautas como ESG, inteligência de mercado e transformação digital tem contribuído para valorizar os profissionais da contabilidade atualmente?

Eliseu Martins – Esses assuntos todos hoje interferem, e fortemente, no papel dos profissionais da contabilidade; não há empresa e não há cliente, a partir de um certo porte, que não precisem cuidar, e com muita atenção, dessas matérias, e esse profissional precisa ser capaz de entender, dialogar e, às vezes, implementar novas funções além daquelas que já vinha exercendo. Essas matérias afetam a empresa como um todo, e a Contabilidade não fica de fora.

RBC – Como os cursos de pós-graduação lato sensu e stricto sensu podem favorecer os contadores?

Eliseu Martins – A educação continuada é simplesmente outra questão de sobrevivência, e o mundo da Contabilidade tem um índice de renovação e inovação que tem se ampliado ao longo do tempo. Um aluno que aprendeu uma matéria no segundo ano pode, ao se formar, ter que revisitar a matéria porque ela poderá já ter sofrido alterações. Com isso, a demanda por atualização é um prato a se digerir todo o santo dia. E esses cursos são parte relevante desse processo de atualização. A escolha vai, é claro, depender de uma autoanálise do profissional para verificar quais seus pontos fracos e quais os que, mesmo estando a dominar, precisam ser reforçados. Haverá também sempre aqueles com maior capacidade autodidática que preferirão ler livros e artigos para se manterem atualizados, mas, as pressões de tempo tendem a tornar difícil esse caminho. E há a facilitação enorme hoje dos cursos à distância, que facilitam o acesso à essa educação continuada. O fundamental é, depois da autoanálise, indagar e pesquisar sobre a qualidade das alternativas oferecidas no mercado e lembrar: não há possibilidade hoje de não fazer essas atualizações”. entrevista / FONTE: CFC

FINALIZANDO

Se fôssemos ampliar bastante o tema em pauta, quanto: carreira, formação e expectativas, chegaríamos até no profissional Nexialista. Ouvindo o especialista no assunto, o Prof. José Carlos de Souza Jr. do IMT, você conhecerá o Nexialista. Acesse: Podcast de 06/08/2021

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Ary Silveira Bueno
Fundador e Diretor da ASPR
Presidente do SiNEco – Sistema Nacional de Ecossistemas do Brasil Digital

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